campeão
juvenil de 1963
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Estas linhas são
muito mais partes de um testemunho do que propriamente a simples
exaltação de um campeão. A genialidade, destinada aos
reverenciados em monumento, tem um papel secundário na história a
ser contada.
Então.
Antes, convém se
fazer o paralelo de duas artes: a música e o futebol.
Na música, para que
os dedos de um pianista possam reproduzir notas musicais é
necessário, primeiramente, o piano, certo? Sem ele a genialidade do
intérprete é muda, afônica.
No futebol, o pianista
não toca com as mãos e tampouco precisa de um piano propriamente
dito para desenvolver a sua arte. Arte, aliás, tão erudita quanto a
do primeiro, com a diferença de que a sua denominação é uma
metáfora, uma comparação das artes.
Mas onde eu quero
chegar? Seja no futebol ou na música, sendo metafórico ou não, um
piano é necessário e, portanto, precisa-se de alguém para
carrega-lo.
Por isso, hoje o
espaço é de um desses “carregadores”, talvez um dos mais
famosos do futebol paraense em todos os tempos, com os seus signos
peculiares de raça e paixão e uma camisa que tão bem o serviu
durante catorze anos.
No frenesi do futebol,
onzenas inteiras são esquecidas para se consagrar um mito. Aqui não.
O testemunhado, por
coincidência do destino, construiu sua carreira ao lado de um certo
Quarenta (ou Quarentinha), sem, contudo, ofuscar a própria estrela e
o brilho de seu futebol. A genialidade do camisa dez teve Carlos
Alberto da Silva Cavalcanti, o Beto, como um de seus mentores. Era
ele que arrumava o palco para que a imortalidade do artista principal
desfilasse suprema e recebesse, ao final do espetáculo, os aplausos
da plateia.
Ambos eram uma
harmonia perfeita de dois pianos que, embora tocassem melodias
diferentes, tocavam juntos.
Mas injusto seria se
Beto fosse resumido apenas como um “consagrador”, sem ser
retratado como também um consagrado. Além de anular malabaristas
para o pianista tocar, o garoto, que surgiu nas divisões de base do
Paysandu no início da década de 1960, escreveu sua história com um
DNA de campeão.
Em 1962, embora tenha
tido uma participação essencial, ficou com o vice-campeonato de
juvenis, formando com Sirotheau uma promissora dobradinha. O primeiro
título veio no ano seguinte como juvenil, tendo sido o grande
entusiasta do time.
Com
ótimas exibições na base, Beto subiu para o time de cima em 1964,
ano em que foi a revelação do campeonato paraense de profissionais
substituindo Quarenta que havia se lesionado gravemente, além de ter
sido campeão paraense de aspirantes e novamente de juvenis.
campeonato
paraense de 1971
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Em 1965, como titular,
foi campeão paraense de profissionais e participou da célebre
goleada de 3x0 sobre o super Peñarol de Alberto Spencer, Ladislao
Mazurkiewicz e Pablo Forlán que foi contada pelas letras fenomenais
de Nélson Rodrigues e pela simplicidade de Pires Cavalcante das
arquibancadas da Curuzú. Essa vitória, por si só, seria suficiente
para que ninguém esquecesse de Beto, mas ela não dimensiona o seu
tamanho e sua importância para a história do Paysandu.
Nos dois anos
subsequentes, Beto carimbou mais duas faixas de campeão estadual em
um período em que os jogadores pratas-da-casa foram esquecidos pelo
treinador Carlos Castilho.
No ano de 1971,
todavia, o craque daria a volta por cima recuperando a titularidade e
reeditando a parceria com Quarenta em uma temporada místicas para os
bicolores. O lendário jogo do “vira-vira” se tornou apenas mais
uma de muitas façanhas daquela camisa quatro que seria novamente
campeã em 1972.
Em 1975 deixou a
Curuzú para jogar pelo Sport Belém, onde parou em 1976. Seria o fim
da saga de um atleta, mas o início da de um mito.
A história não
acabaria por aí.
Cumprindo o dever
histórico, não há como não exaltar o Beto que, após reinar nos
campos, se embalsamou na abnegação, embora não seja esse o
objetivo deste texto. Feita a menção.
Voltando ao ídolo, é
o homem que faz parte da história do clube e o clube que faz parte
da história do homem. O azul royal se tornou parte de seu corpo e
migrou para o seu sangue. Em poucos, esse tom de azul caiu tem bem
como nele.
Na rendição aos
dribles desconcertantes, o colunista, sem menosprezá-la, desfaz à
máxima. À genialidade dos pianistas, as devidas saudações. Aos
“carregadores” a eternidade.
Aqui, vocês também
são imortais.
**Texto de Vincenzo Procopio Filho
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