sábado, 11 de abril de 2015

DOIS LATERAIS: UM HERÓI, UM “DEUS”.


O RExPA do último domingo válido pelo jogo de ida das semifinais da Copa Verde, trouxe muito mais que empolgação aos bicolores e pesadelo aos azulinos. A atuação contundente do time comandado por Dado Cavalcanti, muito parecida com as daquele Paysandu de um certo “Urubú” nos últimos suspiros da década de 1950, gerou, pelas mãos do amigo Pedro Loureiro de Bragança, no prestigiado Camisa Alvi-Azul da ESPN, um dos textos jornalísticos mais bem escritos por aqueles que serão eternamente bem-vindos a arte de jogar futebol com as palavras.
Abaixo o link da matéria:
E melhor que o próprio texto, que relata muito bem o “baile” de Páscoa que o time listrado impôs ao seu rival, foi a comparação de dois títulos superlativos criados no “glamour da bola” como o de ídolo e o de herói. Um de áurea divina e outro mais humanizado, cuja junção é quase a personificação de Hércules, metade homem e metade Deus.
Li aquilo e procurei encontrar na história um jogador que tenha tido as duas características tão bem definidas. O meu saudosismo encontrou o Quarenta (um exemplo também citado por Pedro).
Ora, se o meu parâmetro é o petrificado camisa dez é aceitável que, para mim, não poderia haver outro que pudesse representar de forma tão autêntica esse casamento de idolatria e heroísmo. Acho, sinceramente, que meu romantismo, com a exceção de Vandicks, Betos, e afins, não me deixaria negar que é impossível qualquer bicolor acrescentar mais alguém neste seleto grupo.
Mas aí, meu amigo, surgiu o tal do Pikachu. E sendo franco? O moleque é, sem dúvida, o maior lateral direito do Paysandu nas últimas duas décadas, seja pela sua qualidade técnica, pelo hábito de marcar gols (48 com aquela pintura do último clássico) que já o colocou ao lado de Toni como o 22º maior artilheiro da história bicolor ou, simplesmente, pela marca de dois acessos e um caneco estadual em apenas quatro anos como profissional.

Diante disso, é injustiça não colocá-lo entre os melhores. Para quem o vê jogar, dentre os quais me incluo, não é só injusto, mas impossível.
Pois muito bem.
Mas daí a considera-lo o melhor lateral que já pisou aqui é puro desconhecimento da história do Paysandu. Antes de Pikachu, as divisões de base do Paysandu, treinadas pelo imortal Caim, produziram, nos idos de 1960, um rápido e genial lateral direito chamado Oliveira.
Sendo mais preciso: Raimundo Evandro do Carmo Oliveira. Foi assim que escreveram na certidão de nascimento e, mais tarde, na de óbito, da fera. Começou no meio de campo e depois foi levado para o lado do campo pelo folclórico Gentil Cardoso e lá ficou para se sagrar quatro vezes campeão estadual (1961-1962-1963-1965), golear o Peñarol de Spencer e encantar as Laranjeiras por dez anos com a camisa do Fluminense, onde foi tricampeão carioca (1969-1971-1973) e campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1970.
Além disso, meu amigo, Oliveira driblou o preconceito com o jogador nortista ao desembarcar zombado no Rio de Janeiro e fazer história. História, diga-se de passagem, reconhecida anos mais tarde ao ser eleito em 2000 pela crônica esportiva paraense como o LATERAL DIREITO DO SÉCULO XX do futebol regional e, ainda, o lateral direito do “Paysandu de Todos os Tempos” do Almanaque do Papão do jornalista Ferreira da Costa.
Em síntese: uma unanimidade. Não que Pikachu não seja, mas está se falando de um alienígena da bola. Talvez, entre os mortais/heróis, entre os Hércules da lateral, Pikachu tão bem se enquadre, sem, contudo, ser divino. Oliveira é o Quarenta da lateral e dispensa comparações. Se um é um “Hércules”, o outro é um “Zeus” das beiradas do campo.
A credibilidade da análise, feita por quem viu o Pikachu jogar e não viu o Oliveira, talvez, para alguns, não seja tão consistente. Desta forma, toda e qualquer escalação de um “Flamengo de todos os tempos”, por exemplo, com a presença de Zico no meio de campo, feita por alguém que não o tenha visto jogar, de nada também valeria.
Na seleção dos mortais, a camisa dois já é de Pikachu. Na do Olimpo, é de Oliveira.
É isso.


NOTA DO AUTOR: As discussões acaloradas sobre a consagração de Pikachu como o melhor lateral do Paysandu desde as caravelas nas redes sociais, sobretudo no grupo bicolor do Facebook, me motivaram a escrever sobre o assunto e colocar a minha opinião. Aos que concordam, sejam bem-vindos. Aos que discordam, muito obrigado, é a vida (risos).  

** Texto de Vincenzo Procópío  

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