domingo, 27 de novembro de 2011

Um final previsível para 2011


Com erros a granel, Papão não ganhou nada este ano


Olhado friamente, especialmente para quem estiver de fora, a temporada do Paysandu foi condizente com um clube que disputa a Série C do Campeonato Brasileiro. O time foi até à última rodada da segunda fase com boas chances de conseguir o acesso para a Segunda Divisão e vendeu caro a vitória do América-RN, que classificou o time potiguar. Mas quem acompanhou toda a trajetória bicolor sabe o quanto ela foi errática, cheia de erros e fadada a dar no que deu no momento mais importante.

A diretoria começou errada quando trouxe como treinador o semi-aposentado Sérgio Cosme, continuou errado ao trazer Roberto Fernandes com pouco tempo para trabalhar com o elenco antes do começo da Série C, continuou errando ao trocar o técnico por Édson Gaúcho num momento decisivo e, para não perder o pique, errou mais uma vez ao contratar Andrade para apenas três jogos.

O saldo disso foi a perda do Campeonato Paraense com o título indo, pela primeira vez na história, para um clube do interior. O final da temporada, por enquanto, tem sido fielmente igual ao dos anos anteriores. Aos poucos o elenco está sendo desfeito para que outro seja montado em 2012. Alguns jogadores que saíram-se bem são alardeados pela diretoria de que terão os contratos renovados, dando ao time uma base formada e a não a "terra arrasada" que geralmente acompanha essas transições. No entanto, muita gente dentro do clube afirma com convicção de que mesmo esses que dizem que terão os vínculos renovados não devem permanecer. É esperar para ver se os erros serão repetidos.

No Paraense, técnico "lavava as mãos"

O Campeonato Paraense foi a era Sérgio Cosme na Curuzu. Ele estava quieto em seu canto, no Rio de Janeiro, sem trabalhar como treinador havia três anos - o último clube havia sido a Portuguesa-RJ -, vindo de um período como gerente de futebol do Vila Nova-GO, e topou o desafio. No clube, para não entrar em atrito com a diretoria, resolveu que seria ela a responsável em trazer os reforços. Não indicou um nome sequer. O resultado disso foi a vinda de jogadores a rodo e que não deram certo.

Muitos deles a torcida bicolor mal deve lembrar, e se lembra não deve ser com saudade. Foram 23 contratações para o Parazão, com nomes como os de Rafael Lima, Herbert, Nei Baiano, Álisson, Alex Oliveira, Martin Cortés, Elvis, Hadson, Cristiano Laranjeira, Wesclei, Tinoco e Clayson Rato. Elton Lira chegou a ser demitido duas vezes, mas somente na terceira vez é que foi embora.

Entre as grandes decepções destacam-se dois meias de armação. Primeiro o experiente Alex Oliveira, menina dos olhos do presidente Luiz Omar Pinheiro e que esteve bem em apenas uma partida, a estreia. Depois caiu de produção de tal maneira que não teve jeito de não ser dispensado.

Outro fracasso foi o argentino Martín Cortés. Mas nesse caso há de se fazer uma defesa do atleta. Ele chegou fora de forma como todos os demais, não teve tempo para se adaptar e sofreu com as lesões. 

Quando jogou foi no enlameado campo de Castanhal, o que fez com que se machucasse. Ao recuperar-se, teve apenas uma chance diante do São Raimundo, no último jogo da segunda fase. Saiu-se bem, mas em seguida foi dispensado.

Na Série C, raros momentos de brilho dentro de campo

Curiosamente, o Paysandu empolgou a torcida em apenas dois momentos em toda a Série C, ambas sob o comando de Édson Gaúcho. A primeira, na última partida da fase inicial, goleou em casa o Araguaína-TO por 5 a 0. Foi o resultado que garantiu a classificação para o quadrangular seguinte. Mas ainda havia a desconfiança, já que o time tocantinense era muito ruim. Em seguida veio a vitória apertada sobre o América-RN, mais uma vez em casa. A redenção foi na segunda rodada do Grupo E, a vitória de 2 a 1 fora de casa sobre o Rio Branco-AC, o que consolidou o time como virtual dono do acesso. Mas o jogo foi cancelado por causa do imbróglio na Justiça Desportiva e daí em diante começou a derrocada bicolor.

Com o retorno do Luverdense-MT à competição o Papão perdeu seu maior trunfo, os três pontos fora de casa. Para piorar, jogou duas vezes seguidas com o CRB-AL e foi derrotado em ambas, uma delas em Belém, o que foi o fator decisivo para a perda da vaga para a Segundona.

De fato, tirando os dois jogos citados anteriormente, o Papão em nenhum momento conseguiu deixar a torcida confiante.

Dívidas aumentam e devem se acumular para o ano que vem

O ano terminou pior fora de campo que dentro. Com perspectiva de receita de R$ 200 mil até o dia 31 de dezembro, a projeção de gasto para colocar todo mundo em dia é de R$ 1,2 milhão. Não haverá rescisão contratual, já que os vínculos terminam no final de novembro. Com 94.374 pagantes em sete jogos em Belém, o clube arrecadou pouco mais de R$ 2 milhões, com lucro líquido nas bilheterias de R$ 1.016.796,00 (dados da CBF).

Não bastasse isso a Justiça do Trabalho mandou notificar os patrocinadores do Paysandu do bloqueio de 50% de todos os patrocínios em favor de Arinélson, até a quitação de uma dívida de quase R$ 5 milhões. Essa dívida contempla não só ao ex-jogador, mas todos os reclamantes cujos processos estão em fase de execução. A intenção do clube é pagar R$ 30 mil mensais até janeiro e R$ 50 mil a partir de fevereiro.

As dívidas se amontoam ainda com empréstimos feitos por abnegados e de uma Factoring, que obriga a um pagamento de R$ 30 mil mensais e que tem previsão de ser quitada em 2014.

Nos bastidores, confusão atrás de confusão entre cartolas

Fora de campo o ambiente na Curuzu foi pra lá de turbulento em 2011. Mais do que as idas e vindas de jogadores durante o Campeonato Paraense, com direito a duas listas de dispensas que depois foram desfeitas, constrangendo jogadores, o pior estava guardado para o Campeonato Brasileiro. Dois episódios envolvendo dois jogadores do Paysandu atraíram quase todas as atenções: Sandro e Josiel.

Provavelmente o melhor jogador do Paysandu nos últimos 30 anos, único contemporâneo a ser eleito para o melhor Papão de todos os tempos, o volante Sandro voltou à Curuzu em 2010 para ajudar o time a voltar para a Série B e, não só viu seu intento frustrado duas vezes, como deixou o clube com a imagem arranhada. Acusado de desagregador, ficou calado durante mais de um ano sem se defender e vendo o nome ser sujado dia após dia. O técnico Édson Gaúcho saiu da Curuzu atirando para todos os lados, inclusive na direção do jogador, e este viu-se sendo apontado pela torcida como um dos culpados pela má fase, o que o levou a pedir para sair.

Josiel nunca teve problemas extra-campo. Sempre foi profissional, solícito e fazia o que lhe pediam. Menos fazer gols. No entanto, quando estava à frente do computador fez várias besteiras. Um perfil em seu nome no Facebook afirmava que estava no fim do mundo e, essa um golpe no orgulho local, chamava de feias as mulheres paraense, "Paquitas Queimadas", expressão que ficou famosa. Negou que fosse dele o perfil, mas o estrago estava feito e a relação com a torcida ficou insustentável. Pediu para sair e não fez falta.

Na Curuzu, um acerto e centenas de bondes contratados

Com 49 contratações em um ano, entre jogadores, técnicos e auxiliares, era de se esperar que muitos emplacassem e outros não. Para a tristeza da Fiel, a quantidade de "bondes" foi bem maior do que de jogadores que acertaram. O grande acerto do ano é Rafael Oliveira, que voltou à Curuzu dois anos depois de ter saído pela porta dos fundos e tornou-se o artilheiro bicolor na temporada com 27 gols, um a menos que a marca de Robgol em 2005.

No Parazão, Mendes acabou se destacando, também. Apesar da torcida nunca ter entrado em sintonia com ele, fez dez gols, muitos deles em momentos importantes da competição.

Na Série C, os destaques foram poucos. O zagueiro Leandro Camilo, o voante Daniel e os meias Juliano e Robinho podem entrar nesse rol. No entanto, quem mais se destacou foi pelo aspecto negativo. Apesar de não jogar bem há tempos, o centroavante Josiel foi contratado para ser o homem gol bicolor. Não deu certo. Foram apenas três gols e um pedido para sair constrangedor.

Diogo Galvão também chegou credenciado a ser um dos goleadores do Papão e deixou sua marca apenas em um amistoso. Para valer, jogou apenas dez minutos contra o Águia.

Alguns jogadores nem tiveram oportunidade de entrar em campo, casos do zagueiro Argentino Rodrigo Salomón, célebre por ter postado uma foto numa rede social na internet onde mostrava ser capaz de introduzir uma lata de cerveja inteira na boca, e o volante uruguaio Mariano Rubbo. Este, por ser jovem e indicado por Édson Gaúcho, deve ganhar mais uma chance e permanecer no clube para 2012




**Trecho retirado da reportagem "Os pecados da dupla RE-PA"
**Fonte JAmazonia

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