quarta-feira, 1 de abril de 2015

BETO, ETERNO!

campeão juvenil de 1963

Estas linhas são muito mais partes de um testemunho do que propriamente a simples exaltação de um campeão. A genialidade, destinada aos reverenciados em monumento, tem um papel secundário na história a ser contada.
Então.
Antes, convém se fazer o paralelo de duas artes: a música e o futebol.
Na música, para que os dedos de um pianista possam reproduzir notas musicais é necessário, primeiramente, o piano, certo? Sem ele a genialidade do intérprete é muda, afônica.
No futebol, o pianista não toca com as mãos e tampouco precisa de um piano propriamente dito para desenvolver a sua arte. Arte, aliás, tão erudita quanto a do primeiro, com a diferença de que a sua denominação é uma metáfora, uma comparação das artes.
Mas onde eu quero chegar? Seja no futebol ou na música, sendo metafórico ou não, um piano é necessário e, portanto, precisa-se de alguém para carrega-lo.
Por isso, hoje o espaço é de um desses “carregadores”, talvez um dos mais famosos do futebol paraense em todos os tempos, com os seus signos peculiares de raça e paixão e uma camisa que tão bem o serviu durante catorze anos.
No frenesi do futebol, onzenas inteiras são esquecidas para se consagrar um mito. Aqui não.
O testemunhado, por coincidência do destino, construiu sua carreira ao lado de um certo Quarenta (ou Quarentinha), sem, contudo, ofuscar a própria estrela e o brilho de seu futebol. A genialidade do camisa dez teve Carlos Alberto da Silva Cavalcanti, o Beto, como um de seus mentores. Era ele que arrumava o palco para que a imortalidade do artista principal desfilasse suprema e recebesse, ao final do espetáculo, os aplausos da plateia.
Ambos eram uma harmonia perfeita de dois pianos que, embora tocassem melodias diferentes, tocavam juntos.
Mas injusto seria se Beto fosse resumido apenas como um “consagrador”, sem ser retratado como também um consagrado. Além de anular malabaristas para o pianista tocar, o garoto, que surgiu nas divisões de base do Paysandu no início da década de 1960, escreveu sua história com um DNA de campeão.
Em 1962, embora tenha tido uma participação essencial, ficou com o vice-campeonato de juvenis, formando com Sirotheau uma promissora dobradinha. O primeiro título veio no ano seguinte como juvenil, tendo sido o grande entusiasta do time.
Com ótimas exibições na base, Beto subiu para o time de cima em 1964, ano em que foi a revelação do campeonato paraense de profissionais substituindo Quarenta que havia se lesionado gravemente, além de ter sido campeão paraense de aspirantes e novamente de juvenis.
campeonato paraense de 1971

Em 1965, como titular, foi campeão paraense de profissionais e participou da célebre goleada de 3x0 sobre o super Peñarol de Alberto Spencer, Ladislao Mazurkiewicz e Pablo Forlán que foi contada pelas letras fenomenais de Nélson Rodrigues e pela simplicidade de Pires Cavalcante das arquibancadas da Curuzú. Essa vitória, por si só, seria suficiente para que ninguém esquecesse de Beto, mas ela não dimensiona o seu tamanho e sua importância para a história do Paysandu.
Nos dois anos subsequentes, Beto carimbou mais duas faixas de campeão estadual em um período em que os jogadores pratas-da-casa foram esquecidos pelo treinador Carlos Castilho.
No ano de 1971, todavia, o craque daria a volta por cima recuperando a titularidade e reeditando a parceria com Quarenta em uma temporada místicas para os bicolores. O lendário jogo do “vira-vira” se tornou apenas mais uma de muitas façanhas daquela camisa quatro que seria novamente campeã em 1972.
Em 1975 deixou a Curuzú para jogar pelo Sport Belém, onde parou em 1976. Seria o fim da saga de um atleta, mas o início da de um mito.
A história não acabaria por aí.
Cumprindo o dever histórico, não há como não exaltar o Beto que, após reinar nos campos, se embalsamou na abnegação, embora não seja esse o objetivo deste texto. Feita a menção.
Voltando ao ídolo, é o homem que faz parte da história do clube e o clube que faz parte da história do homem. O azul royal se tornou parte de seu corpo e migrou para o seu sangue. Em poucos, esse tom de azul caiu tem bem como nele.
Na rendição aos dribles desconcertantes, o colunista, sem menosprezá-la, desfaz à máxima. À genialidade dos pianistas, as devidas saudações. Aos “carregadores” a eternidade.

Aqui, vocês também são imortais.  
**Texto de Vincenzo Procopio Filho

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